terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Vinícius Borba entrevista Markão Aborígine



Há quanto tempo está envolvido com o hip hop?

Meu primeiro envolvimento com a cultura Hip Hop foi em 1998, enaquanto eu cursava o Ensino Fundamental, precisamente na sexta série, enquanto transformava os trabalhos escolares em Rap. Sendo morador de Samambaia e tendo meu irmão como dançarino o contato com a cultura foi cedo.

Sobre a poesia costumo falar que foi herança de meu avó, poeta e cordelista Pedro Dantas. A capa do meu 1º CD é uma homenagem a ele, que pra eu foi e é referencial, por ser analfabeto, mas uma das mentes mais inteligentes que conheci, por possuir a força e fé do povo nordestino.

Quais trabalhaos já lançados?

Lançei em julho de 2009 o álbum independente chamado 'Dia e noite. Dia açoite. Noite fria'. Tive o prazer de lança-lo em escolas públicas do DF, e junto a estas apresentações ministrar oficinas de formação e palestras sobre drogadição.

Em 2010 lancei um DEMO chamado 'A vida em poesia', onde declamo poesias de minha autoria e de poetas de Samambaia. Lançamos em pequena quantidade, e em breve disponibilizaremos para Download, além de produzir mais cópias.

Este mês lancei o SINGLE e Vídeo Clipe MEIO SECULO, música escrita dentre 2004 e 2009, que aborda as contradições da dita Capital da Esperança.

Como surgiu a idéia do clip? Qual o mérito do diretor, Alan?

A idéia de produzir o Clipe e lançar a canção surgiu durante os anúncios do antigo governo da capital de como seria as festividades dos 50 anos. Como já esperado os artistas locais foram excluídos, houveram superfaturamento, desvio de recurso público, panetones...

Daí para a concretização bastou-se somar as lutas. Da comunicação visual e popular do Nakaradura Produções com a música e ativismo dentro do Hip Hop que trago comigo como essência e com o Coletivo ArtSam.

O roteiro ficou por conta de Alan Manu K, a quem devo todos os elogios e gratidão, pois deu vida e sentido a canção, através do clipe pudemos reivindicar direitos, apresentar uma história que é omitida e prestar homenagem a quem realmente construiu esta cidade, que foram os nordestinos, os candangos, os pobres...

O objetivo geral do clipe é este: Contrapor as estatisticas de maior IDH do país, apresentar suas contradições e inspirar cada um e cada uma para transformação, para a luta. Pra que Brasília seja de todos e todas.

O mesmo ainda vem junto a um MiniDocumentário sobre o Parque Tres Meninas de Samambaia, que há mais de 10 anos está abandonado. O MidiDoc foi lançado antes do Clipe.

Alguma relação de parentesco com algum candango?

Meus pais vieram da cidade de Baraúna, sertão paraibano, durante a década de 70, buscando melhores condições. Não trabalharam diretamente na construção do avião, mas meu pai limpou muito palácio, enfrentou durante anos o aluguel, os barracos entre esgoto, a falta de saneamento, o desemprego.

Foram candangos da Brasília que realmente tem vida, diferente da frieza do Plano Piloto, moramos em Ceilândia e depois vivemos nos chafarizes de Samambaia.

Além disto, tenho familiares distantes que estiveram em Brasília durante a construção e vizinhos que se emocionaram com as imagens.

Quanto tempo durou a produção do clipe?

A produção se passa a partir de reunião de planejamento, elaboração do roteiro, gravação, tratamento de imagens, pesquisa, edição, etc. O processo durou aproximadamente 30 dias.

As gravações duraram 4 dias, onde percorremos as cidades de Samambaia, Recanto das Emas, Santa Maria, Céu Azul, Pedregal, Plano Piloto, Vila Planalto, São Sebastião, Paranoá, Lago Sul, Estrutural, Taguatinga.

Quanto custou, quanto vocês gastaram?

O Projeto foi planejado de maneira que possibilitasse o desenvolvimento com poucos recursos e com resultado de qualidade, o que ainda é um desafio se tratando de audiovisual, assim como várias atividades que envolvem cultura.

Foram gasto aproximadamente R$ 400,00 com combustível e transporte de toda a equipe, nos mais de 400 km rodados por todo o DF e Entorno.

Tudo voluntário?


Nâo houveram patrocínos estatais ou privados. A produção foi autonoma e voluntária.

Desde o ator, equipe de produção e o processo em si,tudo foi executado baseando-se em um modelo de comunicação comunitária.É uma proposta que inclusive inspira a Rede Quilombo; a produção coletiva através da união de pessoas e grupos da comunidade. Neste caso tudo aconteceu pela união entre Aborígine, Nakaradura, Artsam, .

Voce é natural de onde?

Minhas raízes são paraíbanas. Eu vim nascer aqui, pra retornar a Paraiba, e por fim morar em Brasília definitivamente. Eu me considero paraibano por sangue, mas sobretudo amor.

Mas amo o Distrito Federal, amo Samambaia. Trabalho, sonho e luto para transformar esta cidade, o clipe é uma prova de amor a esta cidade.

Sua formação já está na faculdade?

Possuo como base um ensino médio concluído no Ensino de Jovem e Adultos, em escola pública... Mas trago o grêmio estudantil que apresentou-me a prática do que sempre lia e ouvia no Rap.

Trago comigo o sonho de ser professor de história. Com convicção e missão de ser educador daquelas últimas salas, que geralmente são tidas como problemáticas, mas na verdade só são assim, pois são abandonadas e não respondem a esta metodologia europeia ultrapassada.

Quero e serei educador de história pra poder contribuir e até mesmo apresentar a história verdadeira de nosso rico país, que continua omitida. "Não dar pra se contentar com a rua... O diploma eh noiz"

Hoje é conselheiro tutelar? Pretende continuar?


Hoje tenho a missão, pra não citar função, pois está como Conselheiro Tutelar é mais que um cargo ou profissão. Doo-me até quando for necessário. Sendo um cargo eletivo, e eu estando no meu primeiro mandato, não pensei ou planejei nova campanha, pois ainda não é o momento, mas tento desenvolver e prestar o melhor serviço a comunidade da Estrutural, com todas as dificuldades possíveis, pois a infância, adolescencia, juventude nunca foram prioridades.

Há necessidade de politicas públicas, e da melhor aplicação das já existentes. Muitas vezes em nossa atuação, que é uma ação de prevenção e de aplicação de medidas de proteção, nos vemos de mãos atadas pela falta de creches, escolas, clínicas pública de tratamento para drogadição, enfim de todos os serviços básicos.

De onde vem essa influência da arte de periferia?


Vivência e luta. Sempre morei em periferia, dai vem minha inspiração e vontade de transformação. O povo aqui é forte, traz consigo grande esperança e fé; E apesar de todas as adversidades e propagação do individualismo, ainda comungam de espirito de vizinhança, mesmo o estado oferecendo apenas concreto e não espaços de convivência.

Mas o saber popular, o talento e cultura popular são as referências e inspirações.

O que é a Nakaradura Produções?

A Nakaradura se autodefine como um coletivo periférico de Produção Audiovisual. É formado por moradores de várias cidades como Recanto das Emas, São sebasião, vale do Amanhecer, Riacho Fundo e Ceilândia.

Como o nome sugere, o coletivo trabalha desafiando a falta de recursos e iniciou suas atividades antes mesmo de possuir uma camêra.

Já produziram Curtas, videoclipes,animações, videos institucionais,coberturas entre outros.

Contato: nakaraduradf@gmail.com / 9987-4748 / 8500-2993

Lançamento oficial?

Faremos uma série de lançamentos e vídeo debates em cidades do Distrito Federal, com inicio do ano letivo já agendamos debates em escolas da cidade. Breve traremos mais informações sobre o Circuito de debates sobre 'Brasília Meio Século'

Contatos:

Fones: 9602 6711 e 3209 6711
e-mail: aboriginerap@gmail.com
blog: www.aboriginerap.blogspot.com

MiniDOC: http://www.youtube.com/watch?v=jOjCuInBvhA
CLIPE: http://www.youtube.com/watch?v=e9bdXcNXN1Q

Um comentário:

Unknown disse...

Pra mim um dos melhores clips lançados nos ultimos anos no DF Sem duvida nenhuma!
É isso ae Markao como sempre representando!!!!